terça-feira, 4 de maio de 2010

Organização de Sistemas Diferenciados

19 comentários:

  1. CARTA DE APRESENTAÇÃO

    A disciplina de Organização de Sistemas Diferenciados propõe leituras, pesquisas e reflexões sobre diferentes tipos de ensino, de acordo com as características e especificidades de cada grupo de alunos com os quais se desenvolve um trabalho por meio do processo de ensino-aprendizagem. Segundo as necessidades apresentadas por determinados grupos de alunos, deve-se pensar na organização de um sistema de forma diferenciada.
    Inicialmente, na aula 1 o foco da discussão e reflexão está nos princípios básicos para que se compreenda como se dá a organização de sistemas diferenciados. Para isso, estudam-se algumas legislações e seus artigos no que diz respeito ao ensino. Outros aspectos também são abordados tais como a prática de uma pedagogia diferenciada para a educação multicultural, o sistema educacional e a construção da democracia, bem como a diversidade cultural e qualidade do ensino.
    Posteriormente, na aula 2, enfatiza-se a modalidade de ensino “educação de jovens e adultos” (EJA) e como está atualmente as legislações e práticas educativas entorno de sua realidade. Além disso, traz à tona discussões a cerca desta modalidade de ensino enquanto política pública. Discute ainda sobre o processo de alfabetização enquanto conscientização, seguindo o pensamento pedagógico do educador Paulo Freire. A trajetória da LDB também é focada trazendo reflexões sobre suas perspectivas atuais na EJA. Para finalizar esta aula, há um texto que informa sobre os compromissos político-pedagógicos do educador que trabalha com a EJA.
    A terceira aula discute a importância, as novas dimensões e novos papéis referentes a educação à distância, trazendo informações sobre os parâmetros legais e normativos, a formação dos professores, o ambiente inovador, as mudanças e transformações das práticas pedagógicas, bem como as funções e limitações do tutor nesta modalidade de ensino.
    Os conteúdos discutidos na aula 4 referem-se às ONGs e os sistemas educacionais que possuem, fazendo reflexões sobre o período de democratização da sociedade brasileira, as novas conjunturas das ONGs e seu papel na educação.
    Na aula 5 são enfatizados temas relacionados à educação escolar indígena enquanto modalidade de ensino, enfatizando as responsabilidades da Funai e do MEC na avaliação e realidade da educação indígena, os avanços na LDB/96 no que diz respeito às escolas indígenas nos sistemas de ensino, os parâmetros de uma política nacional para esta modalidade de ensino e também o Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas.
    Finalizando, na aula 6 enfatiza-se a educação contemporânea de um modo geral como democrática e inclusiva. Para isso, os estudos referem-se à educação escolar pública no contexto das transformações da sociedade, aos paradigmas da educação inclusiva, à organização de uma nova escola para os novos tempos e à busca da qualidade social do ensino.
    Portanto, é possível perceber a importância do papel da escola na sociedade atual em que vivemos, sendo imprescindível ser inclusiva e com práticas diferenciadas, conforme as necessidades de cada aluno e da população que visa atender.

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  2. – Princípios para compreensão da organização de sistemas diferenciados

    Explicar um os três ideais (igualdade, equidade e diversidade) .

    relerem a aula 1 “Princípios para compreensão da organização de sistemas diferenciados”, principalmente no que diz respeito à Constituição Brasileira e à LDB quando referem-se à responsabilidade pela educação das crianças. Os alunos, individualmente deverão ler e escrever sobre as diferenças trazidas por estes dois documentos neste aspecto.

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  3. Educação de jovens e adultos no Brasil: perspectivas atuais

    Relerem a aula 2 “Educação de jovens e adultos no Brasil: perspectivas atuais” para que em seguida, juntem-se em duplas, discutam e façam anotações em tópicos sobre o papel e a postura do professor na EJA, e argumentar.

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  4. frase: “O analfabetismo é um dos principais motivos que levam os jovens e adultos a buscarem a EJA. Mas, de que forma o educador pode combater o analfabetismo de seus alunos?” Argumentar.

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  5. – Sistemas de educação à distância: novas dimensões e novos papéis

    Após relerem o item(frase) “Educação à distância: parâmetros legais e normativos” da Aula 3 “Sistemas de educação à distância: novas dimensões e novos papéis”, argumentar a educação a distância e sua forma de ensino.

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  6. Escolham uma técnica de interação mediatizada pelas redes telemáticas para discutirem e escreverem o que ela significa.

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  7. As ONGs e o sistema educacional

    Os alunos deverão elaborar uma tabela registrando nela as características da educação formal e da educação não-formal, apontando em que aspectos uma diferencia-se da outra.

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  8. Educação escolar indígena

    Reler a aula 5 “Educação escolar indígena”

    Escrever e argumentando o significado de um dos cinco princípios organizadores da prática pedagógica em contexto de diversidade cultural na educação indígena.

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  9. Descrevendo em um resumo, sobre o que dizem as leis e documentos a cerca da educação indígena.

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  10. educação contemporânea: a educação democrática e a inclusiva



    Reler a aula 6 “A educação contemporânea: a educação democrática e a inclusiva” e o texto complementar “A democracia no Brasil” de Luis Felipe Miguel.

    Montar um quadro que mostre a conceituação de democracia na educação apresentada em ambos os textos.

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  11. Como pode ser uma educação democrática e inclusiva?

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  12. TEXTOS COMPLEMENTARES

    TEXTO 01 – O que dá certo na Educação de Jovens e Adultos.


    (CAVALCANTE, 2008)

    "A caneta que meu pai me deu foi o cabo da enxada", lamenta Luzinete Maria da Silva, agricultora pernambucana de 50 anos, que cresceu na roça e acaba de se alfabetizar. "Ele dizia que mulher só servia para trabalhar e que, se eu fosse para a escola, ia ficar mandando bilhetinho para namorado." A história de Luzinete é semelhante à de milhões de brasileiros com mais de 15 anos que são analfabetos ou têm escolarização incompleta. E as causas são as mesmas: pais analfabetos ou machistas, necessidade de trabalhar, inexistência de escolas, paternidade e maternidade precoces e falta de dinheiro, transporte, comida e oportunidade. Mas esse quadro está mudando. Luzinete estuda em uma turma de alfabetização na cidade de Limoeiro e quer fazer o Ensino Fundamental. Assim, ela será um dos 4,5 milhões de brasileiros que cursam as aulas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) para conquistar não só um diploma mas uma vida mais digna. É claro que a melhora da escolaridade da população não depende apenas de programas de alfabetização. É preciso incentivar os egressos a continuar os estudos.
    Os alunos também vão em busca de instrumentos para viver no mundo da informação e elaborar pensamentos e ações de forma crítica. "Disso depende a auto-estima, a identidade e até a possibilidade de conseguir um emprego", afirma Timothy Ireland, diretor de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad). Criado em julho de 2004 pelo Ministério da Educação, o órgão coordena ações de alfabetização e oferece apoio financeiro e pedagógico para que estados e municípios garantam a continuidade dos estudos de quem já aprendeu a ler e escrever. "Nos últimos 30 anos, não houve articulação entre a escolarização e a alfabetização de jovens e adultos. Não se pode separar uma da outra", afirma Ireland.
    Quem tem uma turma de EJA sabe das dificuldades de manter o interesse dos alunos - que chegam cansados do trabalho -, de planejar aulas que tenham relação com a vida deles e que não sejam uma versão empobrecida do que é dado a crianças e adolescentes. Mas já há inúmeras escolas trabalhando a EJA com sucesso. Selecionamos experiências que trazem os fundamentos para que você possa dar aos estudantes oportunidade de se tornarem cidadãos autônomos e transformar a escola na porta de entrada de um mundo a ser descoberto.
    Alfabetizar para manter os alunos estudando

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  13. Um dos grandes parceiros do governo na luta contra o analfabetismo é o Serviço Social da Indústria (Sesi). O Projeto Sesi por um Brasil Alfabetizado começou em 2003 e já alfabetizou 600 mil pessoas. Enquanto o Governo Federal capacita e paga os alfabetizadores, o Sesi fornece material didático, capacita e paga os supervisores. "Eles orientam o trabalho em sala, tiram dúvidas e proporcionam a troca de experiências entre os alfabetizadores", explica Eliane Martins, coordenadora nacional de alfabetização do projeto.
    Seguindo a linha do educador Paulo Freire (1921-1997), o projeto alfabetiza com base em temas geradores, fazendo a ligação dos conteúdos escolares com a vida dos estudantes. Em sua turma de alfabetização na Escola Municipal José Clementino Coelho, na zona rural de Limoeiro, o professor Aluízio Barbosa da Silva, por exemplo, começou uma das aulas com uma canção sobre o meio ambiente. Enquanto cantavam, os alunos treinavam a leitura e aprendiam que as queimadas empobrecem o solo, tirando o sustento deles e das próximas gerações. "Eu vi por que é importante reciclar o lixo e que muitas famílias vivem de vender os materiais recicláveis", conta a agricultora Marlene Rosa de Lima Silva, 46 anos.
    O Sesi atua ainda em parceria com escolas particulares. Na mesma Limoeiro, o Educandário Beatriz França recebe algumas turmas do projeto no período noturno. Os alfabetizandos participam, uma vez por semana, de aulas de ginástica laboral dadas voluntariamente pela professora de Educação Física da escola, Cristina Maria de Mendonça. "Ensino exercícios de relaxamento e alongamento e utilizo músicas e brincadeiras. Com o espírito mais leve, a aprendizagem melhora." Cristina revela que alguns estudantes mais velhos não conheciam doenças como artrite e osteoporose. "Eles falam que com a ginástica as dores sumiram", diz. "Não estamos apenas emprestando algumas salas de aula. Todos têm acesso à biblioteca e, assim que inaugurar a sala de informática, também poderão usá-la. É uma forma de contribuir para o desenvolvimento da nossa comunidade", afirma a diretora Maria do Socorro Pereira de Souza.
    Paralelamente a trabalhos como esse, estados e municípios já se movimentam para proporcionar a continuidade da escolarização aos formandos das turmas de alfabetização. A orientação da Secad é de que os alunos sejam estimulados pelos professores a prosseguir os estudos. "Em Limoeiro, estamos mobilizando as secretarias estadual e municipal de educação para ampliar a oferta de EJA. Muitos desistem porque a escola fica distante demais", afirma Luíza Antônia Ferreira, supervisora do projeto do Sesi no município. [...]
    Ensinar as disciplinas como elas aparecem na vida
    O estudo do meio é uma das atividades desenvolvidas pelo Gepeja com as turmas de EJA, em Campinas. Em uma viagem realizada no último mês de junho à cidade de Porto Feliz, distante cerca de 90 quilômetros, cada aluno recebeu uma pasta com seu nome, folhas para anotações, textos, mapas, reportagens e crônicas sobre a visita e o tema gerador, "água".

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  14. Continuação....

    Tudo serviu de gancho para a aprendizagem graças ao preparo dos professores. O ônibus contratado para fazer o transporte atrasou em quase uma hora. Além disso, não tinha microfone - uma das exigências feitas pelo Gepeja. "Pessoal, segunda-feira vamos escrever uma carta à empresa reclamando. Pagamos por um serviço e temos o direito de exigir que ele seja feito", ensinou a professora Sônia.
    Os alunos estudaram conceitos de física, como velocidade, relacionando o tempo da viagem e os quilômetros percorridos, calcularam quantos litros de água uma cidade como Campinas consome a cada mês e aprenderam sobre a história das monções - expedições de navegação em rios ocorridas nos séculos 18 e 19 - que partiam de Porto Feliz. Ao verem peças de tortura da época da escravidão expostas em um museu, debateram sobre as condições de vida dos negros no Brasil. Eles discutiram também o grau de poluição do rio Tietê e que impactos isso traz para a vida deles e das futuras gerações. [...]

    Referência: CAVALCANTE, Meire. O que dá certo na Educação de Jovens e Adultos. Agosto 2005. Disponível em: . Acesso em: 8 dez. 2008.

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  15. TEXTO 02 – As ONGs nacionais.

    (AZEREDO, 2001)

    Conforme mencionado, há uma diversidade de instituições que compõem o terceiro setor e muito pouca informação disponível sobre as diferentes organizações da sociedade civil brasileira. Especificamente para aquelas mais conhecidas como ONGs, os dados mais completos datam de 1996 e, ainda que defasados, fornecem um panorama genérico e auxiliam na compreensão dos atuais desafios que se colocam para os seus integrantes. Estes dados foram elaborados pela Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – Abong, criada em 1991, que realizou uma extensa pesquisa junto a seus associados abordando diversos temas, como a natureza das atividades, conformação institucional, orçamento e fontes de recursos, profissão e funções exercidas por seus quadros, história e ideários. As principais conclusões desta pesquisa, representativa de uma pequena mostra do universo estimado de ONGs, estão relacionadas abaixo. Cabe ressaltar que recentemente a Abong anunciou que realizará nova pesquisa para atualização destes dados:
    - Origem dos recursos: predominância de financiamento das agências internacionais de cooperação não-governamentais. De fato, os acordos instituídos entre estas agências e as organizações não-governamentais nacionais eram responsáveis, segundo levantamento feito em 1993, por mais de 76% dos recursos disponíveis das últimas. A venda de produtos e serviços juntamente com as doações individuais respondiam apenas por 9,5% do orçamento. A filantropia privada dos países ricos é, historicamente, uma fonte destacada na composição do orçamento das organizações da sociedade sem fins lucrativos, destinado a projetos voltados para a superação da pobreza, educação, saúde, defesa e promoção dos direitos. No entanto, conforme já mencionado, a América Latina, antiga beneficiária desses aportes, experimenta um período de grande redução dos fluxos de capitais internacionais destinados à filantropia. Desta forma, existe hoje, no setor, um aumento da competição pelos recursos disponíveis, tanto internos quanto externos.
    - Formato jurídico: cerca de 95% das ONGs até então registradas constituíram-se como associações civis sem fins lucrativos, que se caracterizam por menores exigências burocráticas para a sua criação, inexistência de patrimônio prévio e de um instituidor, mas proíbe a remuneração dos dirigentes e a aplicação de excedentes financeiros. A predominância deste formato, que abrange inúmeras formas – associações de bairros, clubes de mães, recreativas, de classes profissionais, produtores rurais e ONGs – é um dos fatores que explica a dificuldade de percepção da sociedade quanto à natureza e à abrangência das atividades desenvolvidas; parcela considerável das instituições sem fins lucrativos de caráter público não possuía o

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  16. Continuação....

    registro junto aos órgãos governamentais –- declaração de utilidade pública e registro no CNAS – o que não permite à entidade a obtenção de possíveis incentivos fiscais.
    [...]
    - Área de atuação: o setor de educação respondia pela maior concentração de organizações (cerca de 29%) excetuando-se aquelas entidades que prestam apenas algum tipo de assessoria. Apesar das outras áreas que vêm se incorporando ao escopo de trabalho das ONGs mais recentemente formadas, notamos uma prioridade pela atuação junto à educação, visualizada, também, pelo volume de periódicos, cartilhas, manuais e vídeos produzidos pelas instituições. Há que se ressaltar o crescimento significativo de um ramo de atuação dentro da própria educação: a educação para a cidadania, conceito historicamente presente nas ações implementadas pelas ONGs;
    - Público-alvo: é possível verificar uma pluralidade significativa quanto ao público-alvo das ações desenvolvidas, reflexo, em grande medida, da multiplicidade de atores e movimentos sociais verificados a partir do início da década de 1980. Os dados da pesquisa revelaram que o principal destino das atividades das ONGs no Brasil é o público de crianças e adolescentes, fato que demonstra a sintonia dessas organizações com questões de desenvolvimento social;
    - Abrangência: de uma forma geral, as ONGs têm optado por uma atuação de caráter nacional, contrastando com a tendência de ação localizada verificada até meados dos anos 1980. Esta mudança reflete não apenas uma busca de maior visibilidade e projeção institucional, mas também maior legitimação junto ao Estado e à população em geral;
    - Porte: a classificação das ONGs quanto ao orçamento anual evidencia a existência de um grande número de pequenas entidades, cujo orçamento não ultrapassa US$ 500 mil por ano. Segundo os dados da Abong, mais de 86% das ONGs possuíam, em 1993, orçamento inferior ao patamar supracitado. Comparando-se com dados de 1990, a conclusão é de que em três anos o número de organizações cujo orçamento era inferior a U$ 30 mil diminuiu, fato também verificado em relação àquelas entidades cujo orçamento era superior a US$ 1 milhão.

    Referência: AZEREDO, Beatriz. Terceiro setor e desenvolvimento social. São Paulo, 2001.

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  17. TEXTO 03 – A democracia no Brasil.

    (MIGUEL, 2008)

    Há mais de 20 anos, em março de 1985, os civis voltaram a exercer o poder no Brasil, depois de uma longa ditadura militar. O retorno do governo civil é um dos marcos da redemocratização do país, seguido pela promulgação de uma nova Constituição, em 1988, e da eleição direta para a presidência da República, em 1989. Para as ciências sociais, assim como para a mídia, para os políticos e para o próprio senso comum, nós hoje vivemos numa democracia. Mas em que democracia nós estamos vivendo?
    De acordo com a etimologia da palavra, “democracia” quer dizer “governo do povo”. Herdamos não só a palavra, mas a própria idéia de democracia, da Grécia antiga. Lá, nos séculos V e IV antes de nossa era, floresceu um regime de governo no qual as decisões políticas eram tomadas pelo conjunto dos cidadãos, reunidos em assembléia. O “governo do povo” tinha, então, um sentido bastante literal: cada cidadão participava diretamente das decisões de governo. Os cargos públicos permanentes eram, em geral, preenchidos por sorteio.
    Hoje, tal forma de organização política é considerada inviável. Entre os problemas, que em geral são apontados, está o tamanho dos Estados nacionais contemporâneos e de suas populações: não dá para reunir todo mundo numa assembléia. Além disso, as questões de governo teriam se tornado mais complexas, exigindo maior especialização. Há um ponto adicional. A democracia grega excluía da cidadania a maioria dos habitantes; estavam de fora mulheres, escravos e estrangeiros, além das crianças. Com isso, o nível de conflito potencial na arena política ficava bem reduzido. Uma das características mais importantes das experiências democráticas atuais é a crescente incorporação dos vários grupos sociais à cidadania. A diversidade de interesses é muito grande e, portanto, mecanismos de mediação são necessários para evitar que o conflito social atinja níveis explosivos.
    Nossas democracias são, então, democracias representativas. Mas a familiaridade com que a expressão “democracia representativa” é recebida não deve obscurecer o fato de que ela encerra uma contradição. Trata-se de um governo do povo no qual o povo não está presente no processo de tomada de decisões. De maneira um pouco mais sistemática, é possível observar que a construção de uma ordem democrática, qualquer que seja ela, coloca uma série de desafios. Afinal, é necessário gerar uma “vontade coletiva” partindo de um grupo de pessoas com preferências diferenciadas. É necessário permitir a livre expressão dos interesses em conflito, mas sem ameaçar a manutenção de uma unidade mínima, sem a qual nenhuma sociedade pode existir. É necessário garantir que indivíduos desiguais, no que se refere aos recursos de que dispõem, partilhem de uma igualdade política.
    São desafios que estão presentes mesmo em situação de “democracia direta”. Mas a representação política coloca um novo e gigantesco conjunto de problemas, tão ou mais grave que o primeiro. São ao menos três problemas fundamentais, estreitamente ligados entre si:
    (1) a separação entre governantes e governados, isto é, o fato de que as decisões políticas são tomadas de fato por um pequeno grupo e não pela massa dos que serão submetidos a elas;

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  18. Continuação......

    (2) a formação de uma elite política distanciada da massa da população, como consequência da especialização funcional acima mencionada. O “princípio da rotação”, crucial nas democracias da Antiguidade – governar e ser governado, alternadamente –, não se aplica, uma vez que o grupo governante tende a exercer permanentemente o poder; e
    (3) a ruptura do vínculo entre a vontade dos representados e a vontade dos representantes, o que se deve tanto ao fato de que os governantes tendem a possuir características sociais distintas dos governados (são quase sempre mais ricos e mais instruídos do que a média) quanto a mecanismos intrínsecos à diferenciação funcional, que agem mesmo na ausência da desigualdade na origem social. Isto é, os governantes têm interesses distintos do povo, pelo simples fato de serem governantes.
    Em países como o Brasil, existem três agravantes. Primeiro, a recente experiência do regime ditatorial torna necessário reconstruir instituições democráticas, antes mesmo de se pensar em aprimorá-las. Em segundo lugar, a pobreza de vastos contingentes da população priva-os das condições materiais mínimas para o exercício da cidadania. Por fim, o novo cenário mundial – a chamada “globalização” – tornou os Estados dos países periféricos muito frágeis diante das grandes corporações mundiais, retirando questões cruciais do âmbito da decisão democrática.
    Do ponto de vista formal, a democracia brasileira avançou bastante. Todos os principais postos nos poderes executivo e legislativo são preenchidos através de eleições, nas quais a competição é ampla. O direito de voto foi estendido até o limite do que comumente se julga razoável, com sua concessão aos analfabetos e aos jovens entre 16 e 18 anos. Os três poderes são formalmente independentes, ainda que o executivo prepondere (o que é uma tendência mundial). Mesmo nas relações civis-militares, uma área crítica no início da transição do autoritarismo para a democracia, os avanços foram significativos e hoje a influência política das forças armadas está bastante reduzida.
    Mas, por trás da alternância nominal dos governantes, há muita continuidade. As forças políticas se tornaram muito parecidas, reduzindo o leque de opções disponível nas eleições. A esquerda, em especial, foi “domesticada”, reduzindo seu compromisso com

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  19. medidas de justiça social e aceitando o modelo econômico vigente. O Lula que se elegeu em 2002 era adversário político de Fernando Henrique, mas seu governo não apresentou propostas muito diferentes do anterior.
    Parece haver um consenso de que, nas novas condições da economia e da política globais, não há espaço para uma gestão diferente de Estados periféricos, condenados a buscar uma inserção subordinada no mercado mundial e a internalizar fortemente os interesses dos investidores externos potenciais. Tais circunstâncias forçam a esquerda a moderar seu programa, abandonando os diferenciais que a caracterizavam em prol de um pragmatismo que indicaria sua maturidade e responsabilidade. Políticas sociais inclusivas, que promovam a universalização das condições materiais de acesso à cidadania, são em geral engavetadas ou aplicadas de forma tímida, já que precisam se submeter aos imperativos de ajustes fiscais. Direitos trabalhistas e previdenciários recuaram, após a redemocratização, pois são considerados prejudiciais à “competitividade” econômica, aumentando os custos do trabalho para o capital.
    Não é possível discutir aqui até que ponto a chamada “globalização” realmente engessa as políticas governamentais, tema que é motivo de polêmica. Mas, na medida em que os atores políticos relevantes acreditam nisso, ou agem como se acreditassem, a política democrática se transforma num jogo desprovido de efetividade, até mesmo de realidade. Reduz-se o único poder do cidadão comum, que é o voto: ele não indica mais o rumo que deseja para a sociedade, já que as opções não se diferenciam entre si.
    Os desafios a serem enfrentados são muitos, incluindo a redistribuição dos recursos políticos, democratização da comunicação de massa, fortalecimento da sociedade civil. Em todos eles, há um componente que aponta para a redução das desigualdades sociais. Um povo que não disponha das condições básicas para uma vida digna não estará em condição de exercer a soberania – que, segundo o ideário democrático, é o seu papel.

    Referência: MIGUEL, Luis Felipe. A democracia no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2008.

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